quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Êxtase do terror



Crack, apagão na saúde

WALTER GALVÃO

Cérebro destroçado em poucos meses. Pulmão defumado. Fígado retorcido. Corpo cravejado de espasmos, mãos trêmulas, olhar perdido. O coração é um pandeiro descompassado e a pressão é um ioiô. A vida deste usuário de crack resvalou para o abismo da morte iminente.
Ele é um jovem, vive no Brasil de Norte a Sul, seu grito se perde nos esgotos das cracolândias espalhadas por aí. O perigo ronda a família desta vítima que se fez um perigo para a sociedade vítima em potencial de sua fissura interminável. A vontade monocromática é a sua fixação.
Obsessiva é a busca que o jovem empreende pela droga. O torturado corpo disposto a tudo para obtê-la desconhece obstáculos materiais e morais. A abstinência é o gatilho, a explosão, o tombo.
Ontem em João Pessoas foi encontrado o corpo carbonizado de um guri de 16 anos. Queimado por fora e por dentro. Entre lágrimas, a irmã do que foi o jovem disse aos repórteres que ele era viciado em crack. A informação soou como justificação definitiva, absoluta. Ouviu-se um “só podia ser...” que ninguém disse.
Em Fortaleza ontem saiu um relatório informando que 90% dos atendidos por problemas de droga são do crack.
Em Porto Alegre, a polícia liberou imagens de jovens e crianças consumindo crack nas ruas centrais da cidade.
Em São Paulo, relatório da Secretaria de Saúde alerta: em dois anos, o consumo de crack dobrou e crianças entre 10 e 11 anos ingressam neste caminho de loucura, dor e morte.
Na escola paga, meninos e meninas usam latinhas de refrigerante para consumir a droga. Na escola pública, meninos e meninas convivem com os mesmos fornecedores de crack da escola particular.
É a democracia do horror. O crack é o apagão na saúde pública.
O Ministério da Saúde dispõe de dados que comprovam: no Brasil, o crack já é mais consumido do que cocaína e maconha entre jovens. A droga é mais barata. A morte é mais em conta.

2 comentários:

  1. Texto de craque. Sem puxa-saquismo! Parabéns! Só o trabalho voluntário poderá dar resposta imediata ao avanço do crack. Os poderes constituídos já se mostraram incompetentes para resolver o assunto. "Pense nas crianças, mudas, telepáticas". O crack é um bomba de nêtrons no cérebro crackeado.

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  2. O avanço do crack feito metástase por entre as pequenas cidades do interior do Brasil é só mais um dos temas completamente negligenciados pelo poder público. Aqui na nossa região metropolitana, por exemplo, não se vê em nenhuma das administrações municipais...a discussão sobre programas de prevenção, tratamento dos usuários e atendimento ás famílias. O tema como sempre está entregue às páginas policiais...

    Quero ver em que parte da agenda dos candidatos ao governo estará o tema das drogas.

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