Jean Charles e Livardo Alves
WALTER GALVÃO
Lançado em DVD no último dia 11, “Jean Charles” (ver sinopse e ficha técnica abaixo) é um filme sobre a obstinação que impulsiona à superação de obstáculos. Captura e projeta sonhos destruídos pelo acaso e pela violência que encharca de sangue e dor os dias de hoje. Discute a capacidade de realização do indivíduo sob o impacto da sonegação de oportunidades. Relata a diáspora da geração da crise. Fotografa o abandono do Brasil pelos jovens encurralados por desemprego e pobreza, jovens que se sentem abandonados pelo Brasil. É também a crônica do desespero, insensibilidade e incompetência dos atores da guerra ao terror.
Uma guerra que dilacera a autoconfiança das pessoas e das cidades, que semeia medo e ódios entre as comunidades que praticam o assassinato supostamente político e comunidades que são vítimas desse desatino histórico.
Três focos constituem sua realidade: o primeiro é centrado no desenho da personagem título, o jovem brasileiro, mineiro eletricista do interior que se obriga a deixar o Brasil em busca de uma vida com o mínimo de conforto; o segundo eixo é um plano aberto sobre quem são e como vivem os brasileiros em Londres hoje, uma tribo heterogênea com ansiedades comuns: acesso a bens de consumo, libertação de amarras cotidianas que condicionam o indivíduo a reprimir-se, vivências urbanas plenas na Europa supostamente superabundante.E um terceiro eixo que é justamente o da violência, seja institucional representada pela ação aloprada da Scotland Yard que assassinou o migrante brasileiro, violência dos mecanismos de socialização, violência do indivíduo.
A direção constrói um Jean Charles unidimensional, esquemático, previsível. São poucas as nuances da personagem, de quem não sabemos sonhos, desejos, frustrações, motivações íntimas além de atuar como anjo da guarda de quem o rodeia. O que não é pouco, reconhecemos. Mas no geral ele é apenas o cara bem intencionado que repete mecanicamente gestos cotidianos de solidariedade e integração, bom caráter, bonachão, sensível. Selton Mello está impecável, a despeito da baixa densidade psicológica que o roteiro e a direção impõem ao personagem.
O roteiro é eficiente ao dramatizar e ficcionar a história do brasileiro sob o fogo cruzado da desgraceira geral da globalização. Fotografia e figurino competentes, criam a ambiência adequada para a evolução da trama. Um filme simples, correto, sem grandes vôos poéticos que plana espontâneo e necessário à compreensão dos dramas nossos de cada dia.
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SINOPSE - Selton Mello vive o imigrante brasileiro que, em 2005, foi assassinado pela polícia britânica depois de confundido com um terrorista. O filme preocupa-se em mostrar mais como é a vida dos imigrantes brasileiros que vivem em Londres, as experiências de diversos brasileiros que, em busca do sonho de uma vida melhor, arriscam viver longe de seu país. A história dessa comunidade é contada a partir de Jean Charles (Mello).
Elenco:
Selton Mello, Vanessa Giácomo, Daniel Oliveira, Patrícia Armani, Sidney Magal, Renu Setna, Marek Oravec, David Blakeley, Craig Henderson, Ewan Ross, Luis Miranda.
Ficha técnica: Diretor: Henrique Goldman
Elenco: Selton Mello, Vanessa Giácomo, Daniel Oliveira, Patrícia Armani, Sidney Magal, Renu Setna, Marek Oravec, David Blakeley, Craig Henderson, Ewan Ross, Luis Miranda.
Ficha técnicaProdução: Henrique Goldman, Carlos Nader, Luke SchillerRoteiro: Henrique Goldman, Marcelo StarobinasFotografia: Guillermo EscalonTrilha Sonora: Nitin SawhneyDuração: 93 min.Ano: 2008País:
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Livardo Alves e o uso das cuecas
WATER GALVÃO
O cantor e compositor paraibano Livardo Alves foi o primeiro a denunciar a transgressão antropológica representada pelo uso indevido da cueca. Na sua obra antológica, "A marcha da cueca", Livardo, um conservador anarquista, reclama da conversão do uso: de proteção corporal à utilização na cozinha, a cueca, segundo Livardo, percorria uma trajetória menos digna, inadequada, o que representava traição à sua funcionalidade restrita às temperaturas do corpo em seus múltiplos embates.
É de se pensar o que diria Livardo Alves hoje ao ver a cueca transformada em cúmplice dos mais abomináveis atos de corrupção. A cueca transporta sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas, suborno, fraudes contra licitações entre outras mercadorias menos nobres.
Bem, talvez ele tenha respondido à minha questão, "o que diria Livardo?", ao escrever com Orlando Tejo e Gilvan de Brito esta canção no link interpretada por Zé Ramalho.
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