quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Mais do mesmo. O que é bom

WALTER GALVÃO


Este novo filme de Quentin Tarantino (sinopse abaixo)decepciona e contempla expectativas.
Decepciona porque os avanços em relação ao duplo Kill Bill são poucos. Parte da crítica vê avanços onde observo retrocesso.
Há uma certa convicção de que o filme é melhor por conta dos diálogos que estão mais aprimorados, dos silêncios que amplificam o suspense, do maior equilíbrio entre o cômico e o dramático.
Ora, num filme em que vale mesmo é a paixão pelo cinema, onde o hiper-realismo tipico do autor é uma provocativa excitação ao olhar dopado pelas redundâncias propositais, o investimento em diálogos e silêncio "soa" monótono e redundante.
Talvez por ser este o mais "político" dos panfletos estético-filosóficos de Tarantino há uma certa contenção na dramatização dos ícones pop que permeiam a narrativo de Bastardos e nas anteriores.
E por que é o mais político? Por tratar especificamente desta ferida da civilização, o ódio racial, ódio do qual os judeus são referências preferenciais. E abordar o tema ódio racial no início da Era Obama é um posicionamento delicado, ousado e importante. Tarantino faz isso com ampla liberdade. Com doses de ironia. Como não achar que judeus e alemães, que norte-americanos e ingleses não são iguais quando o assunto é ódio, violência, destruição? Somos todos iguais nesta noite de guerras, medos, intolerâncias e autoristarismo.
Mas o filme contempla expectativas porque Tarantino, suas taras, seus enlevos, suas fixações e neuroses, seu talento excepcional, seu olhar cinematográfico estão todos íntegros em Bastardos.
As imagens são lindas, os planos vertiginosos, a ironia rasga feito faca cega, a paixão pela visualidade eletrônica dança nos quatro cantos da tela.
Mais: as referências são o banquete de sempre. O superclose do faroeste macarrônico, a artificialidade maneirista dos blockbuster, a mise-en-scène marcada da ópera, o intelectualismo um tanto arrogante da crítica cinematográfica, a mistura de personagens reais com fictícios... Muita coisa, tudo muito bom de ver.
As mulheres, como sempre, são lindíssimas.
O elenco de altíssimo nível. Brad Pitt, no papel de aldo, o Apache, que lidera o grupo de judeus que persegue e mata nazistas, faz uma mistura de Marlon Brando com John Wayne, está bem, mas nem tanto. É totalmente engolido pela vigorosa composição do oficial nazista feita por Christoph Waltz, certamente o melhor vilão deste ano.
Tarantino, mestre da violência, faz uma declaração de amor ao cinema. Podemos dizer que Bastardos é o seu Cinema Paradiso. Um filme para não esquecer.

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SINOPSE
Durante a Segunda Guerra, na França ocupada pelo exército alemão, a jovem Shosanna Dreyfus (Mélaine Laurent) testemunha a execução da família pelo coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz). Porém, ela consegue escapar e passa a viver sob a identidade de uma proprietária de cinema em Paris, enquanto aguarda o momento certo para se vingar. Ainda na Europa, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) organiza um grupo de soldados judeus para lutar contra os nazistas. Conhecido pelo inimigo como Os Bastardos , o grupo de Aldo recebe uma nova integrante, a atriz alemã e espiã disfarçada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger), que tem a perigosa missão de chegar até os líderes do Terceiro Reich.

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