sábado, 31 de outubro de 2009
Destaque de Mídia
Tragédias contemporâneas
Drogas, debate urgente
WALTER GALVÃO
Urgente, inadiável, permanente deve ser o debate sobre uso de drogas ilícitas, combate ao consumo e ao tráfico, interferência do narcotráfico na qualidade de vida das populações, o papel do Estado, da esfera privada representada pelos agentes econômicos, dos movimentos sociais e do terceiro setor. Esta semana, mais uma vez, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou-se favorável à descriminalização do uso, ao mesmo tempo em que a revista "Veja" trouxe na capa a advertência: "Quem cheira, mata".
Legalizar é o caminho? As experiências de liberação em zonas especiais, como no caso histórico e exemplar da Holanda geraram mais problemas do que soluções, problemas de saúde pública, principalmente. Mas países a exemplo de Portugal, Argentina, Peru, Inglaterra e outros permitem a posse legal de pequena quantidade para uso pessoal.
Como reprimir um impulso ancestral do ser humano de vivenciar os estados alterados da consciência através das substâncias encontráveis na natureza? Múmias egípcias apresentaram vestígios do consumo de maconha. Até animais, a exemplo de elefantes, macados e outros buscam esse tipo de experiência. A legalização, defendida por autoridades a exemplo de FHC, não dá garantia de que o crime organizado reduzirá seus tentáculos. A ONU tem projeções neste sentido e pesquisas históricas que atestam o alto poder de mobilidade do crime.
Culpabilizar o consumidor pela magnitude dos crimes decorrentes do narcotráfico é correto? Se a questão é moral, é ética, qual o direito tem o Estado de dizer o que o cidadão deve ou não usar na sua vida privada num contexto em que o uso de drogas legais como tabaco e álcool geram bilhões de prejuízos à sociedade em gastos com saúde, por exemplo, isto sem falar no contrabando de cigarros e bebidas que representa perdas inestimáveis em impostos para o Estado e consequentemente o cidadão?
Mas é ético permitir que uma pessoa se destrua totalmente através do consumo do crack, droga resultante do rejeito do refino da cocaína, altamente letal, que praticamente dissolve o cérebro do indivíduo em menos de um ano de consumo diário?
Os defensores da legalização do uso das drogas argumentam que se esgotaria uma das principais fontes de renda do crime organizado, que crianças e jovens deixariam de ser aliciadas para a carreira criminosa e que a corrupção reduziria o seu poder, além de que a liberação reduziria amplamente o número de jovens assassinados pela guerra do tráfico permanente nas praças de combate a exemplo do Rio de Janeiro.
O debate está posto. E a convergência de todos no mundo globalizado terá que encontrar qual a melhor solução para o conflito. Não podemos abandonar a discussão.
Crise em Honduras
Acordo na pressão
WALTER GALVÃO
Os Estados Unidos tiveram papel decisivo nesta nova tentativa de acordo em Honduras para restabelecimento da normalidade democrática possível.
O que é positivo e negativo. Positivo porque é importante o esforço diplomático multilateral para o fim do impasse. A população de Honduras merece e precisa. Sem dúvida, é necessário varrer do mapa das Américas os golpes e os golpistas, se bem que as pistas indicam que Zelaya quer a perpetuação no poder seguindo a moda lançada por Hugo Chaves. Levou um golpe porque queria dar um golpe mudando a Constituição.
Mas é altamente negativa a interferência dos Estados Unidos. As razões: destroça tal interferência a legitimidade e a representatividade da OEA que sem a liderança ostensiva dos EUA tem poder ínfimo na concretização de objetivos estratégicos. Isto ficou provado no episódio Zelaya; subordina os interesses diretos da economia Hondurenha à política externa estadunidense, que não tem moral, se bem que tenha cacife, para bancar as regras numa área que foi depredada pela pirataria irresponsável dos tubarões de Wall Street; concentra a autoridade para arbitrar conflitos na esfera da OEA nas mãos de Obama. O que é bom para os Estados Unidos nem sempre é bom para os demais países americanos.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Mundo Pop
WALTER GALVÃO
Por essa ninguém esperava. Pouquíssima gente compareceu na Capital da Paraíba à estreia no início da semana do documentário "This is it" sobre a temporada final da vida do genial Michael Jackson.
Houve quem não fosse temendo levar cotoveladas depois de amargar o esfrega-e-rasga das filas mal-humoradas e lerdas que se formam em eventos de massa.
E a frequencia continua morna, quase fria, o que é de espantar diante da comoção causada pelo sumiço do bailarino, cantor e autor.
Principalmente entre os paraibanos que tiveram o privilégio de ter a imagem pós-mortem do mito estampada na parede de um bar em Cabedelo, repetindo fenômeno (ilusão? milagre? provocação cósmica? delírio coletivo?) ocorrido no México, nos Estados Unidos e por outros países afora.
Não deu o que esperavam os analistas de mídia certos de que por aqui seria repetido o ritual frenético dos fãs apaixonados em busca das relíquias, das imagens, dos rastros de um dos avatares mais amados e controversos da cultura pop mundial.
Nos Estados Unidos, o filme bombou, as bilheterias explodiram, o público se emocionou com a colagem sentimental, divertida, explicativa e sincera de Kenny Ortega, diretor e amigo de muitos anos do Rei do Pop.
As razões para o fenômeno da ausência de público?
Ainda é cedo para explicar o que está havendo. Mas podemos levantar algumas pistas:
Fazia tempo que ninguém curtia Michael entre nós, a morte causou um despertar da paixão antiga e fez também com que muitos que não sabiam da grandeza do astro aprendessem e gostassem. Mas foi uma febre passageira, um clarão em meio ao espoucar permanente de outras celebridades.
Somos um Estado produtor de documentários geniais, temos alguns dos cineastas mais premiados do Brasil nesta área, mas não temos o hábito de ir ao cinema para ver documentários.
Não houve a divulgação na mídia local com provocações suficientes para motivar os jovens a buscarem as "imagens sagradas", na definição do diretor Kenny Ortega.
A realidade é irrefutável: o documentário não motivou, não atraiu, não mobilizou.
Fato que tem aspectos positivos e negativos. Mas isso é papo para um outro post.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Guerras globalizadas
Lei do Inquilinato
WALTER GALVÃO
Alguma coisa precisava ser feita para melhorar as relações no ambiente sempre conflagrado em que respiram inquilinos e proprietários de imóveis residenciais, comerciais, industriais e outros.
O que nós temos atualmente é uma situação desconfortável para todos.
Os caloteiros abusam, não pagam os aluguéis, atrasam o tempo que querem porque sabem que a legislação garante o direito à moradia, e a coisa mais difícil do mundo é algum desalojar um caloteiro, que sempre alega segurança da família.
Na recíprocra, são tantas as exigências para se alugar um imóvel, além do problema do fiador que é um chute na canela de quem tem renda, nome limpo na praça, mas sem alguém pra bancar o contrato, que há uma perda real de milhões de reais para o setor por conta dessa segurança necessária.
O Senado, para tentar superar esses entraves, aprovou na Comissão de Constituição e Justiça, mudanças na lei. Registra a Folha desta quinta-feira: "Projeto aprovado por unanimidade na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado dá aos proprietários de imóveis mais facilidade para despejar os inquilinos, ao mesmo tempo em que permite firmar contratos sem fiador ou multa".
Só falta o presidente Lula sancionar.
Vamos ver se a coisa melhora. Para todos.
Bastardos Inglórios
WALTER GALVÃO
Este novo filme de Quentin Tarantino (sinopse abaixo)decepciona e contempla expectativas.
Decepciona porque os avanços em relação ao duplo Kill Bill são poucos. Parte da crítica vê avanços onde observo retrocesso.
Há uma certa convicção de que o filme é melhor por conta dos diálogos que estão mais aprimorados, dos silêncios que amplificam o suspense, do maior equilíbrio entre o cômico e o dramático.
Ora, num filme em que vale mesmo é a paixão pelo cinema, onde o hiper-realismo tipico do autor é uma provocativa excitação ao olhar dopado pelas redundâncias propositais, o investimento em diálogos e silêncio "soa" monótono e redundante.
Talvez por ser este o mais "político" dos panfletos estético-filosóficos de Tarantino há uma certa contenção na dramatização dos ícones pop que permeiam a narrativo de Bastardos e nas anteriores.
E por que é o mais político? Por tratar especificamente desta ferida da civilização, o ódio racial, ódio do qual os judeus são referências preferenciais. E abordar o tema ódio racial no início da Era Obama é um posicionamento delicado, ousado e importante. Tarantino faz isso com ampla liberdade. Com doses de ironia. Como não achar que judeus e alemães, que norte-americanos e ingleses não são iguais quando o assunto é ódio, violência, destruição? Somos todos iguais nesta noite de guerras, medos, intolerâncias e autoristarismo.
Mas o filme contempla expectativas porque Tarantino, suas taras, seus enlevos, suas fixações e neuroses, seu talento excepcional, seu olhar cinematográfico estão todos íntegros em Bastardos.
As imagens são lindas, os planos vertiginosos, a ironia rasga feito faca cega, a paixão pela visualidade eletrônica dança nos quatro cantos da tela.
Mais: as referências são o banquete de sempre. O superclose do faroeste macarrônico, a artificialidade maneirista dos blockbuster, a mise-en-scène marcada da ópera, o intelectualismo um tanto arrogante da crítica cinematográfica, a mistura de personagens reais com fictícios... Muita coisa, tudo muito bom de ver.
As mulheres, como sempre, são lindíssimas.
O elenco de altíssimo nível. Brad Pitt, no papel de aldo, o Apache, que lidera o grupo de judeus que persegue e mata nazistas, faz uma mistura de Marlon Brando com John Wayne, está bem, mas nem tanto. É totalmente engolido pela vigorosa composição do oficial nazista feita por Christoph Waltz, certamente o melhor vilão deste ano.
Tarantino, mestre da violência, faz uma declaração de amor ao cinema. Podemos dizer que Bastardos é o seu Cinema Paradiso. Um filme para não esquecer.
--------------------
SINOPSE
Durante a Segunda Guerra, na França ocupada pelo exército alemão, a jovem Shosanna Dreyfus (Mélaine Laurent) testemunha a execução da família pelo coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz). Porém, ela consegue escapar e passa a viver sob a identidade de uma proprietária de cinema em Paris, enquanto aguarda o momento certo para se vingar. Ainda na Europa, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) organiza um grupo de soldados judeus para lutar contra os nazistas. Conhecido pelo inimigo como Os Bastardos , o grupo de Aldo recebe uma nova integrante, a atriz alemã e espiã disfarçada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger), que tem a perigosa missão de chegar até os líderes do Terceiro Reich.
Seguidores
Arquivo do blog
Quem sou eu
- Walter Galvão
- Cidadão que gosta de produzir e receber informações